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quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Onda (Die Welle) Trailer

Se Beber, não Case 2

ABANDONAR O NAVIO!!!



 Em 2003, pouco antes da estréia, lembro que PIRATAS DO CARIBE: A MALDIÇÃO DO PÉROLA NEGRA (Pirates Of The Caribbean: The Curse Of The Black Pearl) era aguardado com desconfiança pela crítica - afinal, o que um filme baseado num brinquedo da Disney poderia render!? - o gênero "filme de pirata" já estava em decadência havia anos (o próprio Polanski manchou a carreira com o idiota PIRATAS, de 1986, com Walter Matthau); mas o elenco prometia: Johnny Depp, Orlando Bloom e Keira Knightley. Resgatando o espírito de filmes de "capa e espada" que consagraram Errol Flynn, respirando um novo frescor através de cenas de batalhas muito bem arquitetadas, roteiro oitentista e o carisma de um personagem que de coadjuvante tornou-se protagonista da franquia, Piratas do Caribe tornou-se uma marca milionária, arrebatando fãs no mundo todo.

 Considerado o Midas de Hollywood, o produtor Jerry Bruckheimer, acertou em cheio ao escalar um elenco de peso - além dos já mencionados, há a ótima contribuição de Geoffrey Rush - a trilha sonora de Hans Zimmer que tornou-se hit entre fãs e simpatizantes da série e, sobretudo, a direção de Gore Verbinski (que apesar do nome, nasceu nos States mesmo). Verbinski chamou a atenção após dirigir O CHAMADO (The Ring), adaptação hollywoodiana do nipônico "RINGU", que, apesar de não ser considerado à altura do original (lógico!), cumpriu seu papel em assustar muito marmanjo no Ocidente. Em 2005, Verbinski provaria seu tino para estórias nada fantásticas com o pouco conhecido e excelente O SOL DE CADA MANHÃ (The Wheather Man), que teve o inconstante Nicolas Cage como protagonista.

 Em 2006 a sequência estrelou com estardalhaço! PIRATAS DO CARIBE: O BAÚ DA MORTE (Pirates Of The Caribbean: Dead Man's Chest) arrecadou quase 136 bilhões no final de semana de estréia, só nos US. Filmado em conjunto com o terceiro capítulo da série, nos moldes de O SENHOR DOS ANÉIS. Muito mais à vontade e com um orçamento dos sonhos, Verbinski, pôs em prática todo seu talendo visual. Logo no prólogo, a cena chuvosa do casamento cancelado entre Elizabeth Swann e Will Turner atestam o olho acurado do diretor, a química entre os atores, a profundidade nos conflitos… O segundo capítulo da série é de longe o melhor! Introduzindo um vilão bacana, interessante e assustador; conferindo à Jack Sparrow uma aura mítica; fazendo espectadores do mundo todo vibrarem e rirem com as cenas - muitas surreais - de ação. Filme pipoca da melhor qualidade. Piratas 2 deixou todos salivando pelo terceiro.

 OK. No ano seguinte o terceiro capítulo, que, supostamente, encerraria a série, não naufragou por pouco. PIRATAS DO CARIBE: NO FIM DO MUNDO (Pirates Of The Caribbean: At The World's End) tem um terceiro ato exagerado e difícil de engolir, mesmo para um filme de fantasia épica. Mas, consegue se manter. Novamente, créditos ao diretor. Os roteiristas acabam por criar uma trama tão intrincada em O BAÚ DA MORTE que o nó de marinheiro acaba por não ser completamente desatado em NO FIM DO MUNDO. Mas, confesso, a cena depois dos créditos finais deste filme tem um significado muito especial para mim. Aliás, para os desavisados: todos os filmes da franquia tem cenas curtas depois do créditos finais.

Bom, mas tudo isso foi só uma introdução para chegar ao filme em questão:
PIRATAS DO CARIBE: NAVEGANDO EM ÁGUAS MISTERIOSAS
(Pirates Of The Caribbean: On Stranger Tides, 2011)

Direção: Rob Marshall
Geoffrey Rush
 Logo antes da estréia do terceiro capítulo da série, haviam burburinhos de que a série provavelmente não acabaria com NO FIM DO MUNDO. Fãs em polvorosa. Declarações desencontradas. Um filme solo de Jack Sparrow… Logo a confirmação: o próximo filme da franquia seria sobre a procura de Jack Sparrow à fonte da juventude. Uma boa premissa. Os roteiristas teriam a faca que o queijo na mão: um personagem carismático, um tema que renderia aventuras fantásticas e ainda poderiam emular questões importantes sobre a futilidade da busca pela juventude eterna, tudo numa franquia já muito bem-estabelecida… Cagaram! O novo PIRATAS é um sucesso de bilheteria, mas, singra na glória de feitos passados. O filme em si é fraco e decepciona.
 
Abandonando os ótimos Will Turner (que tomou o lugar de Dave Jones) e sua amada Liz Swann, os roteiristas decidiram presentear o Capitão Jack com par romântico, no caso, Angelica (Cruz). Acresceram, ainda, à trama outro casalzinho mais apaixonado e insosso: Philip e Syrena. Barbossa retorna. Um novo vilão é introduzido. Da antiga tripulação do navio Pérola Negra somente Gibbs (Kevin McNally), está de volta. E… o maior erro de todos: sai Gore Verbinski para dar lugar ao timão para Rob Marshall. Marshall que criou o espetáculo visual de CHICAGO e o drama MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA (Memoirs Of A Geisha, 2005). Mas, o mesmo Marshall também do equivocado NINE e, convenhamos, CHICAGO é um saco! Ainda assim, esperava-se de Marshall um melhor cuidado com as atuações e, por sua experiência em musicais, coreografias de batalha emocionantes. Não tivemos nada disso.
 
O filme navega o tempo todo sobre os ombros de Johnny Depp, que, por melhor ator que seja, não consegue ofuscar o roteiro defeituoso e a direção estabanada. Colocando Sparrow como protagonista principal, os roteiristas se viram numa sinuca de bico: tentaram resolver o dilema de forma covarde; mudaram o personagem. Se antes tínhamos um Sparrow pirata, instável, dissimulado, somos neste capítulo obrigados a vê-lo criando estratégias, planos e racionalizando. Ao tentar salvar seu antigo companheiro Gibbs, Sparrow descobre que existe um impostor usando seu nome para recrutar uma tripulação afim de encontrar a Fonte da Juventude. Desmascarando-a, já que o "impostor" é Angelica, antigo amor do personagem - uma tática tão batida, quanto simplória, por parte dos roteiristas que, provavelmente, não queriam queimar a caxola na hora de criar uma empatia real entre o casal. O primeiro ato é uma série de besteiras. O júri que não reconhece Sparrow fantasiado de um juiz muito conhecido, os soldados ingleses - ou melhor todos os ingleses de um modo geral, inclusive o Rei George - estabanados, que dão à Sparrow todas as armas e saídas para sua fuga, de mão beijada. Em momento algum há qualquer tensão. O público fica até embasbacado com a facilidade a qual o Capitão Jack escapa. Cenas de batalhas confusas, câmeras inseguras que não sabem muito bem pra onde olhar, posso arriscar que o próprio Sparrow não fica muito à vontade com a facilidade. Existe um longo diálogo entre Sparrow e Gibbs, que, é fato, serve apenas para contar ao público o que está rolando e quais são os planos. E isso será uma constante no filme: diálogos maçantes e explicativos. Nada é aludido, tudo é exposto.
 
Sem notar, Sparrow e o espectador se vêem no navio do pirata Barba Negra (McShane), navegando em direção à Fonte da Juventude. E aí, talvez, você pensa que a trama po tornar-se interessante... Puro engano! Barba Negra é um vilão frouxo, que acata os comandos de sua filha Angelica, a qual pretende salvar a alma do pai, e, por esse motivo, mantém vivo à bordo um missionário desbocado (Sam Claflin), que vive atazanando a vida do pirata temido até por outros piratas (?!?). Barbossa, vendido ao rei, quer vingança contra Barba Negra por ter-lhe amputado a perna direita, agindo como capitão real. Gibbs barganha sua vida ao memorizar o mapa que revela a localização da Fonte da Juventude.
 
O segundo ato desperta os que estava sonolentos. Sereias. O uso do mito grego é acertado em fazer com que os piratas já saibam que estas são perigosas e mortais - afinal, a estória já se passa no século XVIII... - os marujos querem caçá-las, já que o ritual demanda a lágrima de uma sereia. Um momento bacana, mas, ao mesmo tempo, estranho: as sereias de Marshall são muito parecidas com as PIRANHAS ASSASSINAS 3D... Introduz-se uma nova personagem, a sereia Syrena (Astrid Berges-Frisbey), que desperta a compaixão e amor do missionário Philip em cenas açucaradas e desnecessárias. Saudade do carisma de Lizz e Will. Trama arrasta-se para um terceiro ato previsível e sem emoção.
 
Além das falhas de Rob Marshall que não soube criar misé-en-scenes - posição dos atores em cena - interessantes, por não ter sido capaz de defender seus atores e personagens de situações embarasosas, por não ter tido punho e tino para criar cenas de aventura realmente emocionantes, enfim, por não ter exigido mais de si o dos de sua equipe; existe o principal defeito que é o roteiro furado e covarde, que trapaceia com o espectador várias vezes, que não se dá ao trabalho de desenvolver alternativas para dizer ao público o que eles precisam saber sem quebrar o ritmo da aventura, por escorar-se em rostos famosos para eximir-se de criar personagens carismáticos e intrigantes - não há paradoxos, só incongruências - que despertem a imaginação e o carinho dos fãs mesmo longe das telas, que não se leva à sério. Para minha tristeza, até o próprio Hans Zimmer em nada contribui para este quarto capítulo, usando uma trilha sonora requentada dos outros filmes. que, sempre na dúvida em compor uma melodia recorre ao tema do violino o qual os fãs ligam ao Capitão Jack Sparrow ou a batalha sinfônia, usada nos trailers - outra interferência na trilha é da dupla mexicana Rodrigo y Gabriela, numa tentativa tosca de conferir à fita um ar "caliente" - nem Keith Richards, em aparição maior que a que fez no terceiro filme foi bem aproveitado. Com um mito nas mãos tudo o que Marshall e os roteiristas souberam fazer um diálogo maçante e dispensável.
 
Fãs da série, façam o movimento contra o Rob Marshall! Se o cara continuar na franquia ele poderá fazer a Sparrow o que Joel Schumacher fez ao homem-morcego… e não sei se está nos planos de Christopher Nolan dirigir um filme de piratas.
 
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Minhas Tardes com Margueritte - Trailer legendado