Banco de dados:

terça-feira, 26 de abril de 2011

O CAMINHO NECESSÁRIO PARA O DESCONHECIDO




A FONTE DA VIDA
 (The Fountain, 2006)

 Direção: Darren Aronofsky
 Elenco:
 Hugh Jackman
 Rachel Weisz



Será que se vivessemos eternamente, digo, na mesma forma que conhecemos a vida meramente fisiológica, despida de qualquer aura religiosa e metafísica, faríamos melhor uso dela?... Pergunta sem noção....

                                    Só disse isso por achar que o filme A FONTE DA VIDA, de Darren Aronofsky seja uma obra cinematográfica capaz de levantar tais questões. 

 Abrangendo três histórias que se passam em mil anos - cada uma tem 500 anos de intervalo, por assim dizer - usando de narrativa que costura muito bem os três tempos, cortando de uma cena organicamente, no sentido em que repetições de ângulos, círculos, um castelo que transforma-se num quadro, uma nebulosa que se mostra num tubo de ensaio... Aronofsky expõe a todo momento esta busca dolorosa e angustiada do ser humano pela vida eterna, seja qual for motivo para a mesma: em 1500 D.C., Tomás, cavaleiro da rainha Isabel, na Espanha, recebe a missão de encontrar a Árvore da Vida, para que sua rainha possa ter um trunfo contra o poder da Inquisição católica que assola seu reino; no ano 2000, Tom, um geneticista, luta contra o tempo para encontrar a cura para a doença de sua esposa, Izzy, argumentando que a Morte é uma doença e que ele achará a cura; em 2500, um astronauta viaja em direção à Xibalba, um nebulosa, a fim de fazer revitalizar a mesma Árvore da Vida, da qual ele próprio vive tirando-lhe alimento.
 Uma fotografia dourada, imagens poéticas, e belas atuações de Hugh Jackman - que interpreta as encarnações de Tomás, Tom e o astronauta, conferindo à cada homem um personalidade única - e a sempre maravilhosa Rachel Weisz, que também confere à rainha Isabel e à esposa enferma Izzy, graça e ternura. Enquanto o homem é sempre retratado como portador de uma ansiosidade extrema a mulher é quem doa calma e sabedoria diante dos momentos mais sombrios. 

                 Colocando seus personagens tão frágeis e efêmeros em contraponto à horizontes que enunciem o Infinito e o Sublime - tal como o cavaleiro diante da Árvore da Vida, o casal que discute na neve ao pôr-do-sol e o astronauta aproximando-se de uma nebulosa que também está morrendo - o diretor-roteirista prega a Morte como algo certo, necessário e até desejável. Tolice?... Eu não creio! Haja visto que mesmo as teorias mais céticas já provaram que toda matéria morta é reciclada pelo Universo.


 Tudo tem um fim, para que haja um recomeço. Eterno retorno, ciclo da vida, evolução... Metafísica pura, eu sei! o fato é que A FONTE DA VIDA, apesar de sua carga mística, tem uma narrativa bem coesa - é só prestar atenção, pô!!! - e não decepciona na fotografia. Um espetáculo à parte é a trilha de Clint Mansell, que carrega a aura do filme.

  "- Death is the road to awe!", a palavra 'Awe' em inglês tem sentido amplo, Comumente traduzida como medo ou temor, refere-se muito mais à um medo reverente, um respeito pelo desconhecido. E não quero parecer um reacionário dogmático, mas, acredito que perdemos muito desse respeito com o avanço tecnológico. Uma cura para a Morte?! não chego nem a me acostumar com a ideia do Botox...



 -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

 MAKING OF:

 A primeira vez que vi este filme eu ainda morava em Limeira, interior do estado de São Paulo. Foi uma experiência sublime, fazia uma madrugada fria e me lembro que eu me martirizava com a ideia de ter que acabar com meu casamento. Não estou dizendo que o filme me motivou a divorciar-me, mas, abriu minha mente para a ideia da necessidade de um fim - uma morte, por assim dizer - para que um novo ciclo começasse. Revi várias vezes este filme, cada vez pirando mais do que a anterior nos diálogos e símbolos. Uma particularmente, deitado num colchão na sala de uma tia, na TV à cabo, vendo uma garota tendo sua primeira experiência com o filme. Minhas cenas favoritas são as que o 'conquistador' é assimilado pelas raízes da Árvore da Vida e a que o astronauta é desintegrado pela explosão estelar fazendo reviver a mesma árvore mítica. Lembrando de tudo isso, revejo minha posição atual, e, sei que isso é um ópio, mas, aceito a dor lacerante no peito como necessária para recomeço. Passadas em direção ao Desconhecido.



...

Nenhum comentário:

Postar um comentário