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sexta-feira, 20 de maio de 2011

U M A R E D E S O L I T Á R I A



A   R E D E    S O C I A L
(The Social Network, 2010)

Direção: David Fincher




Antes de mais nada, devo confessar que fui muito reticente quanto a este filme. Lembro-me de todos comentarem sobre e tudo o que me vinha à cabeça era a "beatificação" de mais um bilionário geek à la Bill Gates que - como o já mencionado - passou a perna nos colegas e tornou-se dono de uma das empresas mais rentáveis do mundo. Nem mesmo a corrida pelo Oscar incitou-me interesse. Foi só quando decidi confiar no prestígio do diretor David Fincher - responsável entre outros títulos pelos excelentes CLUBE DA LUTA e SEVEN - que, enfim, vi A REDE SOCIAL. Um ótimo filme. Mas, agradeço à mim mesmo por não tê-lo visto antes. À epoca de seu lançamento meu julgamento teria sido invariávelmente influenciado pelos meios de comunicação; muito mais no sentido de rechaçá-lo. Resquícios de uma rebeldia adolescente que vez ou outra, felizmente, vigora-se.

Não li a biografia de Mark Zuckerberg, portanto, pouco me aterei à ela. Sei o que todos sabem sobre o fundador do Facebook: é o bilionário mais jovem do mundo e foi alvo de diversos processos judiciais que colocam em xeque a maior rede social - virtual é bom que se diga - do mundo como idealização sua. Quem inventou o macarrão? Os chineses, mas… foram os italianos que popularizaram e aprimoraram a iguaria. Quem inventou o telefone? Grah-… ops… foi Antonio Meucci! Graham Bell só tinha a grana para pagar a patente. A lista de invenções creditadas àqueles que na realidade só as popularizaram é imensa. O interessante no roteiro de Aaron Sorkin é justamente o fato desta controvérsia servir apenas como pano de fundo, um fio condutor que conta uma história muito mais intimista: a história de um jovem solitário. E pode-se dizer que A REDE SOCIAL seja, antes de uma cinebiografia de um jovem que se tornou bilionário, uma 'cineradiografia' da solidão da juventude pós-moderna. Madrugada de sexta-feira - foi quando escrevi este post - e o Facebook está abarrotado de atualizações e comentários e uploads de usuários que estão sozinhos em suas casas, e, mesmo aqueles que agora estão em alguma balada ou evento social real carregarão suas fotos e vídeos para a rede virtual, um misto de concurso de popularidade e abafamento do sentimento que corrói o peito de muitos que atesta: estamos sós!

Zuckerberg tomando cerveja com sua namorada num bar universitário. Zuckerberg já é logo apresentado como um jovem inteligente, frio, e com uma grande preocupação em mente: destacar-se. Quando puxa assunto com sua namorada sobre a população de genios na China ele não está falando de antropologia ou qualquer outra discussão humanística e sim sobre ele próprio. "Como destacar-se?" Para olhares mais perspicazes não é difícil notar já de início esta obcecação de Mark. Obcecação essa que faz o personagem desdenhar das origens de sua namorada o que gera a revolta da garota que termina com Zuckerberg. Zuckerberg é imaturo. A atitude de Mark é a mesma de muitas pessoas hoje, extrapolar na internet. Blogando… Fuga. A grande vingança das pessoas hoje é a de excluir ou bloquear umas as outras de seus perfis virtuais. Lançar impropérios contra seus inimigos nas redes socias e sites de compartilhamento de informações. Os embates estão à um clique. É no Vale do Silício que ocorrem as grandes batalhas épicas hoje. A astúcia de Ulisses está naquele que melhor souber usar os recursos que a internet disponibiliza. É a grande odisséia tecnológica ! os 'fakes' são os mendigos de Ítaca hoje. OK, não vou me ater muito aos mitos. Muito embora as referências aos mitos nerds/geeks são muitas, seja a menção de séries de TV, filmes clássicos e hits dos anos 1980, video-games, músicas, bandas e até a trilha usada em M - O VAMPIRO DE DUSSELDORF (1931), na cena da regata.

Mas, verdade seja dita, o longa de Fincher tem um frescor atual. Coloque aí a contribuição preciosíssima de Trent Reznor e Atticus Ross. A trilha casa muito bem instrumentos clássicos das composições de Ross unidos ao som eletrônico de Reznor, músico da banda Nine Inch Nails. É saboroso ouvir violoncelos irritados com um piano triste que conjurando notas high-tec, uma espiral crescente. A trilha parece impulsionar as imagens ao mesmo que esta parecem 'encorajá-la' ainda mais. Uma atomosfera fervilhante e intensa, como a solidão envolvente de um netbook conectado à internet. A edição é outro ponto forte. Os julgamentos são formas de dar voz à vários narradores. Costurando flashbacks com declarações "atuais", uma frase de efeito de um personagem do passado é proferiada pelo narrador do julgamento, retornando à cena do flashback, sem perder qualquer efeito dramático; na realidade, a técnica usada realça ainda mais o arco dramático da história. A fotografia é belíssima, unindo um quê documental às técnicas artísticas de iluminação, mostra-se natural mas foi engenhosamente fabricada para ser assim. A direção de Fincher é orgânica, cresce natural e sem exageros. O desenvolvimento dos personagens é tangível, assim como a evolução destes. Talvez o pecadilho cometido pelo filme seja uma visão muito indulgente de Mark Zuckerberg, que, de escroto, vai revelando-se aos olhos do público um garoto assustado que só queria magoar a ex-namorada.

O elenco está muito bem afinado e até Justin "*NSYNC" Timberlake está ótimo no filme. Mas, indubitávelmente é Jesse Eisenberg quem carrega o filme todo nas costas. São palpáveis os sentimentos de mágoa, solidão, desdém e uma ânsia por algo maior que o próprio personagem não compreende. O vazio o qual preenchemos com tudo o que não precisamos, em vão.

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MAKING OF:

Outro dia uma sagaz amigo meu disse à outro pelo telefone: "Estamos em outros tempos. Hoje se uma garota se irrita com você ou quer te 'mandar um recado' ela te exclui das redes socias…" - uma outra amiga minha não compreende como uma pessoa pode dar-se ao trabalho de ligar para outra e não falara nada quando esta atender… São tempos difíceis. Não se sabe mais o que as pessoas esperam de você, porque nem elas mesmas sabem o que esperar. Ouço que o desapego é a melhor solução. Mas, desapego do quê? Não sei. O que sei é que sim vejo as pessoas cada vez mais desapegadas umas das outras e apegando-se em contrapartida à outras coisas, muito mais efêmeras e descomplicadas. Sabedoria suprema ou fuga covarde? Também não sei dizer ao certo. Só acredito, no meu caso, meus bens mais preciosos ainda permanecem nas relações e vivências daqueles que amo, e daqueles com quem vivo, vivi e ainda viverei. Mas esse sou eu… Eu ainda sou meio à la Snufkin que crê que uma pessoa não deveria ter mais do que ela pudesse carregar.




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