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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

BRAVURA INDÔMITA




BRAVURA INDÔMITA
(True Grit)
2010

Direção: Joel Coen e Ethan Coen

Elenco:
Jeff Bridges
Hailee Steinfeld
Matt Damon
Josh Brolin


 Embora apresentado como um remake do filme de 1969, dirigido por Henry Hathway e estrelado por John Wayne - sendo que o elenco tinha também o lendário Dennis Hooper e Robert Duvall - a obra dos irmãos Coen já deixa claro, logo de início, que este longa foi adaptado do romance homônimo de Charles Portis à la Coens. Diferentemente do clima idílico do filme de 1969 este já inicia-se em uma atmosfera poeirenta e dura. Compondo um western visceral e verossímel, os Coen conseguem também dar à trama um toque trágico-poético digno de uma ópera.

 Mattie Ross (Steinfeld) é uma garota de 14 anos que têm o pai assassinado brutalmente por um fora da lei, conhecido como Tom Chaney (Brolin). Determinada a vingá-lo, a garota contrata o agente federal Rooster Cogburn (Bridges), famoso por sua selvageria e lista de mortos. Uni-se a dupla o Texas ranger LaBoeuf (Damon), que também caça Chaney por assassinar um senador texano.

 Bridges compoem um Cogburn rústico, chucro e indubitávelmente animalesco. Há na personalidade do federal também um quê de Lebowski (personagem vivido por Bridges no filme O GRANDE LEBOWSKI, um vagabundo assumido, jogador de boliche). A figura do anti-herói, por excelência. Cogburn tem a selvageria e cinismo caústico. Observando de seu único olho são, cinicamente, a civilização mentirosa que tenta ocultar o estinto humano. Steinfeld dá à Ross um olhar obstinado e uma determinação fervorosa em sua atitudes. Não é preciso nenhum prólogo para saber que a garota teve no pai um ótimo tutor nos negócios e nas artimanhas da ambição humana. Seja em seu sorriso quase imperceptível ao dobrar um comerciante inescrupuloso, seja em sua bravura ao cruzar um rio profuno no lombo de um cavalo, Mattie Ross prova ao público e aos próprios Cogburn e LaBeouf sua capacidade e determinação em vingar o pai morto. Damon e Brolin, entretanto, estão perdidos no filme. Especialmente Brolin que com o papel de Chaney tinha tudo para ser o grande vilão, revela-se ao final um personagem desinteressante e fraco.

 BRAVURA INDÔMITA tem seu grande trunfo justamente em seus personagens. O roteiro costura a estória dos protagonistas com a de tipos exóticos e singulares. O filme é povoado de seres fabulosos. Longe de serem meras caricaturas o elenco extra teve um cuidado especial: trejeitos, vozes, sotaques, vestuário, cicatrizes... Porisso digo que Tom Chaney torna-se um sujeito desinteressante, afinal, após o espectador ver tipos como o agente funerário, que gosta de repetir para Ross "If you wanna kiss the body, it's OK!", o comerciante velho e sem escrúpulos que se vê dobrado por uma garota de 14 anos, o homem-urso e dentista do velo-oeste e o Lucky Ned Pepper (Barry Pepper)... O humor negro do Coen também está presente, seja nos diálogos seja no flagrante nas expressões dos personagens diante de algo sinistro. Cogburn protagoniza as falas mais divertidas - devidamente dentro do contexto - e nonsense, vide "I don't know this man!", "You are not LaBeouf!!!", "Shooted or killed?!..."

 História de bravura e perda da inocência, mais do que tudo. O novo filme dos Coen adiciona à história do cinema um retrato, junto com ONDE OS FRACOS NÃO TEM VEZ, do círculo vicioso que é a violência e das marcas irreparáveis que carregamos conosco, muitas vezes, até o túmulo.


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