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quarta-feira, 25 de maio de 2011

ALÉM DA VIDA, ou sobre novas frequências.



ALÉM DA VIDA
(Hereafter, 2010)

Direção: Clint Eastwood


Quem nunca se perguntou o que acontece depois que morremos?! Seja o mais cético ou o mais crente, todos já se fizeram esta mesma pergunta: existe vida após a morte? Clint Eastwood, cineasta que passou dos 80 anos, também! Afinal, não é à toa que os trabalhos mais recentes do diretor foquem justamente tramas mais intimistas e abordem sobre a finitude da vida, como MENINA DE OURO, GRAN TORINO e CARTAS DE IWO JIMA.

ALÉM DA VIDA, portanto, deve ser encarado muito além de seus aspectos técnicos - que são falhos - transcendendo à um plano mais pessoal.

O roteiro de Peter Morgan acompanha três personagens que tem experiências ligadas ao plano espiritual. Marie Lelay, uma jornalista francesa, sobrevive ao tsunami que devastou a Tailândia em 2004, porém, por alguns segundos, ela teve uma experiência de quase-morte, enxergando um plano espiritual. A experiência deixa-a catatônica por alguns dias. Encorojada pelo namorado, esta decide escrever um livro - que a princípio seria uma biografia política, porém, torna-se uma pesquisa sobre provas incontestáveis sobre o Além. Em londres, Marcus e Jason, gêmeos, tentam encobrir a mãe viciada para que os agentes socias não a levem e os dois tenham que viver com outras famílias. Mas, Jason - que é o mais extrovertido e 12 minutos mais velho - morre num acidente de carro. Marcus vê-se sem o irmão "mais velho", e sem a mãe. A morte do irmão leva-o atrás de respostas acerca do que vem após a morte, consultando médiuns e videntes charlatões. Em São Francisco, George Lonegan, um operário do setor de construções, tenta ocultar um dom mediúnico genuíno. "Uma vida baseada na morte não é vida".

Embora o roteiro de Morgan contenha cenas sensíveis e bons momentos os montadores não foram eficientes em dar ritmo ao longa. Incapazes de costurar uma multitrama, o espectador é obrigado a acompanhar um personagem por longo tempo e num corte brusco mudar seu olhar para outro personagem, como uma trama novelesca. Flertando com o melodrama, Eastwood também patina em vários momentos. Tirando de cena, por exemplo, a personagem Melanie - Bryce Dallas Howard, encantadora - num chororô só. Faltaram conflitos reais. George foge de sua vida de médium com um trabalho comum, mas, ao ser demitido o perigo desfaz-se, já que o personagem vê nisso somente uma bela oportunidade de viajar. Marie também se vê sem emprego e seu editor diz que não comprará seu livro sobre espíritos, somente para voltar atrás e oferecer à ela ótimas oportunidades de publicação. Marcus após a morte do irmão e o envio da mãe para uma clínica de recuperação é enviado para o lar de uma família adotiva tão boa que ele pode sair à torto e à direita, sem represálias.

Mas os pontos fortes existem! a cena do tsunami é magistral. Eastwood coloca sua câmera no centro da devastação. Roland Emmerich, com sua porção de produções catástrofe, não foi tão eficaz em transferir o espectador para o meio de uma tragédia desta magnitude. Plasticamente impecável. Muito bem fotografado, mesmo que de forma quase perene em tons sombrios.

É o roteiro, infelizmente, que acaba se arrastando por algum tempo, cresce e diminui. Inconstante. Ainda assim, desperta o interesse. A trama afunila-se no terceiro ato, os personagens confluem para um mesmo local, quando poderão encontrar suas respostas e peças que faltantes. É um final simples, chega até ser piegas, mas, como eu disse antes, olhando além dos aspectos técnicos ALÉM DA VIDA é um filme tocante. A trilha sonora composta pelo próprio Eastwood merece ser apreciada. Usando dos temas da peça de Rachmaninoff (Concerto para piano, nº 2), para criar uma canção aveludada, melancólica, fluída. Aliás, é bom lembrar que não é a primeira vez que o compositor russo inspira uma trilha metafísica: em 1980 o compositor John Barry trabalhou em cima da Rapsódia para criar uma das mais belas e românticas trilhas do cinema, para o filme EM ALGUM LUGAR DO PASSADO (Somewhere In Time).
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MAKING OF: Confesso que gostei do filme, apesar das falhas mencionadas. Assisti-o completamente imerso. Na escuridão. Fones de ouvido. Só. Questionado, ontem, sobre minhas experiências mediúnicas e exorcismos eu mencionei à uma amiga que acredito que deva haver um estado preciso para que alguém consiga "comunicar-se" com qualquer força ou energia além da que conhecemos sensitivamente. O chef da aula de culinária que o personagem de Damon frequenta diz que cozinhar é uma experiência que envolve todos os sentidos, porisso, ele toca peças de ópera em suas aulas. Eu diria que a analogia serve também para a vida! O intelecto é importante, o dinheiro é imprescíndível no modelo social em que vivemos, mas, a apatia tem engolido cada vez mais as pessoas. Não estou aqui querendo defender uma teoria espiritualista, tampouco pagar de conselheiro zen… O que quero dizer é racionalizar tudo não resolve. É preciso estar aberto a outras "frequências". Se é que me entendem…


Um comentário:

  1. "Logic will get you from A to B. Imagination will take you everywhere. "
    ...Albert Einstein

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